quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Canção da chuva

Ouço violinos
e canções no tempo
a chuva cai tranquila
sobre o coração
ficamos velhos
mas o som continua o mesmo


http://www.youtube.com/watch?v=I6QWQS-pRR8&feature=related

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Trilho dezembros

Lá se vai
mais uma armadilha
trilha tirana
amiga distante

Embaixo dos pés de jambo
eu vejo a sombra
mas ela desaparece
em você

É tudo distante
nas tardes de roça e pomar
é tudo tão longe

Mas eu prefiro pensar
que estou perto o bastante
pra poder te mirar

Minha estrela cadente,
meu brilho de aquário,
flor reluzente

Só penso que ando
ando só porque penso
em todos esses dezembros

sábado, 24 de outubro de 2009

Ao caminhar

para chegar ao estado de graça
é preciso penar, rasgar a roupa em espinhos,
doer e sangrar

trilhar os caminhos mais áridos
romper os calcanhares nas pedras, no barro
dissolver a culpa, derreter os erros,
dilacerar os pecados
apascentar o espírito

chegar lá
também é possível
pela vereda mais clara, aberta
e aparentemente sem os perigos de sempre
é preciso queimar o ego,
peneirar a poeira ilusória do tempo
lapidar as virtudes

manter-se firme no propósito
de pôr os pés a serviço
romper as correntes
não olhar para trás
caminhar, caminhar
ter a mente firme
e acreditar.

Para Joel, Evaldo, Bili, Cris, João, André, Bianca e Cari

as chaves do tempo
eu as perdi
deixaram de fazer sentido
ou servir para abrir um baú de lembranças
porque eu entendi que nós sempre estivemos juntos
embora a distância teimasse que não

que importa se envelhecemos?!
ganhamos algumas marcas e uns cabelos brancos!
mas continuamos com o mesmo sorriso
e aquela cara de paixão e surpresa...

os nossos caminhos entrelaçam velhos e novos sonhos
as nossas mãos se encontram para dizer sim
e as lágrimas, agora, chegam para regar um outro plantio
as sementes que brotam do encontro
no solo fértil da esperança

de todas as primaveras
esta trouxe as flores mais belas
e a luz para iluminar o que foi,
o que é e o que sempre será

armadilha

Estive na grande cidade
de mil descobertas
lá eu pude rever os amigos
sentir o cheiro do antes
trinta anos passam ligeiro
o tempo é uma lenda, que nos ilude por tradição
mas o coração é real,
quando nos encontramos
o amor é a imagem no espelho
e eu respiro aliviado
se já não posso ver aqueles que se foram
ainda tenho muitos para abraçar
o tempo é uma armadilha
que agora sabemos desarmar

domingo, 5 de abril de 2009

eu e meu pai

Em nossas caminhadas na areia
vemos o mundo do nosso jeito
o vento empurra pra longe
os entulhos da alma

o mar traz na espuma alegres canções
os passos certeiros, solidários
nos fazem mais próximos
e concordamos com aquilo que nos faz sermos um

se for para ir embora
ou na hora de chegar
tudo é igual quando o muito que há é saudade
por isso escorrem no rosto lágrimas de despedida
ao longe e de perto
foram muitas despedidas

cada vez que nos encontramos
de novo
é para isso que eu penso que o tempo passou
para que esse momento chegasse

abraços seriam inúteis se não fosse para repeti-los indefinidamente
para reparti-los com toda a gente
caminhamos na areia
desde que me lembro da primeira vez
quando a vida era mansa, ainda muito por fazer
andávamos deixando as sombras para trás
e alertando um ao outro dos perigos restantes.

e ainda andamos
em busca do tempo que se foi
e de um tempo que certo virá
de muitas e muitas caminhadas
dos nossos planos, lembra?
a cada fim e começo de ano?

a areia molhada nos traz
as palavras mais certas e cada definição do que a vida é
em nossa vã filosofia

acho que somos do mar,
homens do vento, da maré e do sal
o mar é um verbo imenso
de múltiplos significados
o mar se adapta e nos aceita, nos envolve
absorve o nosso suor
e nos alivia a sola dos pés
nos acarinha como os afagos de um pai
porque ele é eterno e infinito
como nossos espíritos
soltos, livres, meninos
de carona nas asas das gaivotas

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

corações & neurônios

um coração que canta
vendo o barco partir
soluça ligeiro
des com pas sa do
como se soletrasse
a palavra saudade
numa gagueira pungente

o coração apertado
brame aflito
ruge, uiva, geme,
se escabela
quando percebe
que lá se foi
o que tanta falta fará

dias, anos, décadas
perecem e tornam mais brancos
os fios da teia frágil da vida
mistérios e reencontros
e de novo surge
a expressão rubra
e o bater acelerado
lá está
o coração
cheio de idéias,
não contente em ser bomba
quer virar neurônio
é, o coração é um babão
teimoso
insistente
e destemido
se esquece
que ainda há pouco
sofria ferido
agora já se acredita
impelido
a andar e errar
por novos velhos caminhos

um certo carnaval

Mês capenga, pernas tortas,
drible no tempo
talvez por isso
ele é só o carnaval
no país
da farsa e da mentira,
fevereiro é mês de férias
de se redimir de tanto pecado
pecando
no país dos deputados
e filhos do senado, todos santos,
um fevereiro por ano é pouco!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Janeiros

Quanto te quero
agora que não te posso ter
querer, poder, ter
três verbos de posse
quando nunca somos
donos de nada

janeiros inteiros
rondando os instantes
eternos errantes
sem nome, sem par

os meses te dizem
os nomes primeiro
não mentes, não sentes
o passo ligeiro

o dia nascia
a morte chegava
sempre cantando
a quem a negava

o tempo não passa
insiste, sucede, repete
os janeiros
são sempre os primeiros

um tempo distante
cantou de repente
teu rosto marcante
na minha frente

janeiros ligeiros
anunciam a ida
e eu sinto tão forte
a tua partida